Despovoamento do interior: o fosso entre as regiões portuguesas

O despovoamento do interior é uma das questões sociodemográficas mais relevantes da atualidade do nosso país. As discrepâncias entre as cidades do litoral e o interior são cada vez mais profundas, com impacto em todo o território. Explicamos-lhe o significado do despovoamento e as suas causas e consequências.

A evolução económica e demográfica de Portugal causou uma progressiva concentração de pessoas e de atividades nas regiões do litoral, principalmente a partir dos anos sessenta. Segundo os Censos de 2021, cerca de 50% da população residente em Portugal está concentrada em apenas 31 dos 308 municípios existentes. 

Neste sentido, Portugal é um país polarizado e assimétrico, devido às discrepâncias acentuadas do volume populacional entre as regiões. As migrações são impulsionadas pela procura por mais oportunidades de vida, principalmente por parte dos jovens, deixando algumas regiões do interior desertificadas.

Assim, à medida que a população urbana cresce, com Lisboa e o Porto a apresentarem um aumento do número de residentes, o interior do país vê-se parado no tempo, cada vez mais envelhecido e remoto. 

O que é o despovoamento do interior?

O despovoamento é entendido como um processo de desenvolvimento de dinâmicas sociodemográficas que leva ao declínio populacional de um determinado território. No caso de Portugal, as dinâmicas migratórias desenvolvem-se no sentido do interior para o litoral. 

O governo português aponta diversos fatores que levam à classificação de certos territórios nacionais como sendo “do interior”, nomeadamente a localização geográfica, a densidade populacional, a demografia, as características físicas do território, a socioeconomia e as acessibilidades. 

As migrações populacionais podem influenciar indiretamente algumas destas características, acentuando as desigualdades entre as regiões.

Causas do despovoamento do interior

Existem vários fatores que contribuem para a diminuição da qualidade de vida das populações do interior e que, consequentemente, são as causas do despovoamento:

  • Menos oportunidades de educação, sendo que muitos jovens migram para estudar.
  • Fraca oferta de emprego, que obriga a população a migrar em busca de melhores oportunidades.
  • Níveis críticos de infraestruturas e serviços, principalmente hospitais, estabelecimentos de ensino e transportes.

Consequências do despovoamento do interior 

O despovoamento do interior é um dos temas sociodemográficos mais debatidos da atualidade, porque tem graves consequências sociais e ambientais:

  • Envelhecimento da população, que resulta numa maior pressão sobre a segurança social.
  • Descuido com a paisagem, o que aumenta os riscos de incêndio. 
  • Degradação do património cultural, devido à falta de investimento nestas zonas.
  • Fecho de estabelecimentos de ensino, graças à redução do número de crianças.
  • Isolamento social das pessoas mais idosas, que veem a sua família partir.
  • Escassez de alimentos, graças à falta de trabalhadores rurais.

Possíveis soluções de reversão

Apesar de o cenário não ser o mais animador no que diz respeito à tendência do despovoamento do interior, existem algumas soluções de reversão, nomeadamente:

  • Programas e apoios governamentais que fomentam a fixação de população nas regiões do interior, como o Programa Nacional para a Coesão Territorial ou Emprego Interior Mais.
  • Criação de infraestruturas e serviços, nomeadamente escolas e hospitais.
  • Promover o regime de teletrabalho, que permita viver no interior e trabalhar para uma empresa sediada nos centros urbanos.
  • Incentivo à criação de eventos culturais que contribuam para a valorização social dos territórios despovoados. 

Tome nota!

O despovoamento do interior é um problema com implicações para todas as regiões do país, que deve ser travado por políticas governamentais de fixação da população nas zonas rurais.