A linguagem gestual pode ser genericamente definida como um sistema que representa objetos e ideias através dum esboço gestual que imita as suas características principais. Assim, os surdos-mudos precisam de ter uma língua base que faça a transmissão das ideias para o gesto, razão pela qual a linguagem gestual não é uma linguagem universal.
A comunidade surda portuguesa é composta por cerca de 115 000 pessoas. Por esta razão, criou-se o Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa, celebrado a 15 de novembro, que visa a sensibilização e divulgação da língua gestual, de forma a reduzir as desigualdades ainda sentidas.
Segundo um estudo publicado pela revista Royal Society Open Science, a língua gestual portuguesa teve origem na língua gestual sueca, graças ao professor Per Aaron Borg que abriu uma escola em Estocolmo em 1809 e, uns anos mais tarde, em Lisboa.
Ainda assim, existem poucos estudos sobre a origem e evolução das línguas gestuais em todo o mundo, ao contrário do que acontece no caso das línguas faladas, sendo estudadas há vários anos e através de métodos computacionais desenvolvidos.
A par do que acontece com o estudo da sua origem, existem outras áreas em que a linguagem gestual e esta comunidade são deixadas de parte. Assim, importa perceber um pouco melhor quais são as dificuldades de inclusão destes indivíduos, de forma a compreender como as eliminar e tornar a sociedade mais equitativa.
Dificuldades de inclusão de pessoas surdas-mudas
A população surda-muda é uma comunidade minoritária linguística e culturalmente, razão pela qual enfrenta vários obstáculos no que respeita à acessibilidade e igualdade em diversas áreas da sociedade. As suas principais dificuldades são:
- Falta de inclusão social da comunidade surda-muda, por constituir uma minoria na sociedade e divergir do resto das pessoas.
- Dificuldades na acessibilidade aos serviços de saúde, justificada pela falta de compreensão da linguagem gestual pelos profissionais de saúde.
- Falta de privacidade e sentido de individualidade, uma vez que estas pessoas têm de ser acompanhadas por um membro da família ou um intérprete em várias ocasiões.
- Fraca humanização na relação com os profissionais dos vários serviços.
- Dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento emocional e social durante todo o percurso escolar.
- Dificuldades no acesso ao mercado de trabalho, seja por dificuldades de comunicação na entrevista ou durante o dia a dia laboral.
Como podemos tornar a sociedade mais equitativa?
Combater as desigualdades enfrentadas por uma população minoritária não é fácil, pelo que o primeiro passo na criação de uma sociedade mais equitativa é compreender o modo como os surdos-mudos experienciam o mundo.
Só assim vamos ser capazes, enquanto comunidade, de criar mecanismos mais inclusivos, contribuindo para o bem-estar desta parte da população. Assim, algumas mudanças importantes que devemos considerar são:
- Criar políticas públicas inclusivas, que estabeleçam práticas de acessibilidade em áreas como a saúde e a educação.
- Traduzir visualmente todas as campanhas públicas de prevenção na área da saúde (através de legendas, meios ilustrativos, intérpretes, etc.)
- Garantir a contratação de intérpretes em serviços como os hospitais, as escolas e os serviços administrativos públicos.
- Normalizar a presença de pessoas surdas-mudas nos ambientes sociais, facilitando a sua comunicação e integração.
- Garantir oportunidades iguais no acesso ao mercado de trabalho, enquanto as empresas se tornam mais acessíveis nos seus processos.
Tome nota!
A surdez ainda é vista como uma diferença limitadora, no entanto, se existir um esforço conjunto da sociedade para ultrapassar a barreira linguística existente, esta comunidade vai sentir-se mais incluída e feliz.