Comércio justo: o que é, a importância e o impacto

Explicamos tudo o que precisa de saber sobre o modelo comercial que sobrepõe o consumidor e a sustentabilidade ao lucro e competitividade económica.

O que pagamos por cada produto tirado das prateleiras pode variar de inúmeras formas. Quanto maior a cadeia de valor, maior é a diferença entre o custo de produção e o valor final de qualquer artigo que levamos para casa.

Isto significa que, quantos mais intervenientes participam na criação do produto final, mais caro este acaba por se tornar. Este é, atualmente, o modelo convencional do comércio, mas isso não implica que seja o mais vantajoso – nem o consumidor escolhe o destinatário do seu dinheiro no momento da compra nem os produtores primários têm acesso a uma parte considerável do lucro que as suas matérias-primas geraram.

Um exemplo simples são os chocolates. As marcas mais ‘Premium’ são vendidas a um preço infinitamente superior ao valor que é pago a quem recolhe a matéria-prima, neste caso o cacau. Enquanto as marcas levam para casa a maior fatia do bolo, quem trabalha diariamente na produção do cacau sai gravemente prejudicado pelo negócio. Além da injustiça social, estas práticas põem ainda em causa a sustentabilidade do planeta.

Para quem não concorda com práticas comercialmente transversais como esta, existem alternativas, como o Comércio Justo.

O que é o Comércio Justo?

Mesmo com um sistema comercial já ‘enraizado’ na sociedade moderna, existem alternativas para quem procura escolhas mais sustentáveis. É o caso do Comércio Justo – um modelo comercial que procura estabelecer uma ‘aliança’ entre todos os atores da cadeia comercial, desde os produtores aos consumidores, visando negar algumas das principais ‘injustiças’ do comércio atual, construindo antes princípios e práticas económicas mais justas e coerentes.

O Comércio Justo (ou Fair Trade) nasceu na Holanda, nos anos 60, assumindo como princípios básicos a transparência e aeducação dos consumidores, tal como o seu respeito e preocupação pelo meio ambiente. No fundo, o Comércio Justo sobrepõe as pessoas ao lucro.

Este modelo age, ainda, como representante de outros pilares éticos, tais como:

  • Igualdade de género
  • Exclusão da exploração infantil
  • Estabilidade das relações comerciais
  • Qualidade dos produtos
  • Pré-financiamento dos produtores.

O Comércio Justo é, sobretudo, importante para os diversos participantes da cadeia de valor de cada produto. Isto porque, na esmagadora maioria das vezes, os atores primários dessa mesma cadeia, como os agricultores, recebem uma mínima parte da fatia do lucro daquilo que ajudam a produzir. Um dos maiores exemplos onde isso acontece é na indústria têxtil, onde quem recolhe a matéria-prima, como o algodão, ou quem trata do corte e costura, recebe uma ínfima parte do valor a que o produto final é vendido.

A uma escala menor, isto também acontece no setor alimentar, sendo que, aqui, o comércio justo assume uma importância muito maior, uma vez que é um sistema que ajuda negócios locais e/ou familiares e também organizações cooperativas. Por fim, este modelo confirma-se também útil para o consumidor final, dado que lhe permite conhecer a origem daquilo que compra com total transparência.

Comércio Justo Missão Continente

Exemplos de Comércio Justo

A dimensão e impacto do Fair Trade foi aumentando à medida que cada vez mais marcas - de escala global - se afirmaram como Fair Trade Brands; isto é, marcas com o selo de prática de Comércio Justo. Um dos maiores exemplos é a Ben & Jerry’s, cujos gelados são produzidos de forma sustentável e economicamente justa para os intervenientes da sua cadeia de valor. Só nos Estados Unidos, por exemplo, existe uma plataforma que reúne todas as marcas detentoras de certificado Fair Trade.

Já em Portugal, ainda que numa escala muito menor, o Comércio Justo também já ganhou forma. O Centro de Intervenção Para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (CIDAC), em Picoas, Lisboa, é exemplo de experiência e trabalho nesta área. Aqui podem encontrar-se produtos alimentares, de artesanato, beleza, higiene ou limpeza; todos eles produzidos de forma sustentável e economicamente justa. Segundo o portal LifeCooler, existem 13 lojas de Comércio Justo em Portugal, do Norte ao Sul do país.

Também as grandes empresas já começam a dar destaque à importância do consumo sustentável e transparente. O Continente, por exemplo, lançou uma nova gama de tabletes de chocolate com receitas originais que incluem cacau de origem sustentável certificada. “Além da qualidade, decidimos utilizar cacau de origem 100% sustentável, com certificação UTZ, que garante a produção agrícola e o fornecimento responsável, sem prejudicar o meio ambiente ou explorar a mão de obra, respeitando as regras do comércio justo”, explica Ana Alves, Diretora Comercial de Marcas Próprias Continente.

Como saber se um produto cumpre as boas práticas de fair trade?

Hoje em dia, dada a preocupação crescente de muitas marcas com a sua perceção exterior, mas também com a sustentabilidade do planeta, vão surgindo cada vez mais certificados como o UTZ. Além de estar atento à comunicação que as marcas vão fazendo nos seus canais, online e offline, procure também por informação na embalagem dos produtos. Todos aqueles que são produzidos de forma sustentável, têm por norma um certificado de sustentabilidade associado.

Tome nota!

Apesar de haver um sistema comercial implementado, e independentemente de este ser ou não benéfico para todas as partes, é importante ter em conta que pode fazer as suas próprias escolhas. Se quer apoiar o comércio local, pode optar pelas lojas de rua em vez das grandes superfícies. O mesmo acontece quando confrontado com diferentes variantes dos mesmos produtos: preferir um produto que é fruto da exploração humana ou que é concebido de forma sustentável e justa é uma questão de escolha. Escolha essa sobre a qual tem total poder para tomar.

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