Chocolate: doce ou amargo para o ambiente?

Apesar do compromisso da indústria em acabar com a desflorestação provocada pela produção de cacau, este continua a ser um tema esquecido por muitos. Felizmente, existem exemplos de produtores sustentáveis que procuram contrariar o sabor amargo que este delicioso produto pode deixar no planeta e na comunidade. Conheça-os neste artigo.

Todos adoramos chocolate. Esta é uma verdade quase unânime que explica o enorme sucesso deste produto em todo o Mundo. Não é assim de estranhar que os dados apontem para o facto de os portugueses consumirem em média cerca de 1,4 quilos de chocolate por ano.

No nosso país, milhões de pessoas apreciam diariamente tabletes e snacks de chocolate, no entanto muitos desconhecem o impacto ambiental associado ao processo de produção deste produto.

A doçura inquestionável do chocolate representa um custo real para o planeta. Historicamente, a indústria do cacau está associada a inúmeros danos ambientais e a violações dos direitos humanos. Segundo dados da WWF, durante a época de cultivo de 2013-14, estima-se que 2 milhões de crianças tenham sido forçadas a trabalhar em condições perigosas. De resto, os baixos preços do cacau forçam muitos agricultores a uma pobreza extrema, impedindo-os de melhorar as condições das suas explorações agrícolas.

Além disso, esta atividade contribui para a destruição do ecossistema, a perda de biodiversidade e a sedimentação dos cursos de água. A baixa produtividade e a desflorestação para novas plantações justifica-se em parte pela má gestão das produções existentes. Na Costa de Marfim, por exemplo, estima-se que 70% da desflorestação ilegal esteja relacionada com a cultura do cacau.

chocolate missao continente

Como é produzido o chocolate

A produção de chocolate começa com o cacaueiro, onde as vagens de cacau crescem no tronco. As sementes de cacau no interior do fruto são submetidas a fermentação e secagem. Depois de torrados e partidos, os nibs interiores são esmagados para produzir licor de chocolate. A conchagem tritura as partículas para obter uma textura suave. A têmpera confere ao chocolate o seu aspeto e textura brilhantes. Finalmente, está pronto para ser apreciado.

Ainda que à partida pareça um processo simples, a indústria do chocolate enfrenta desafios de sustentabilidade e preocupações éticas na cadeia de abastecimento do cacau, como:

  • Desflorestação: a cultura do cacau contribui para a desflorestação generalizada na África Ocidental, uma vez que os agricultores abatem as florestas tropicais para novas plantações de cacau, em vez de reutilizarem a terra.
  • Trabalho Infantil: é predominante na cultura do cacau na África Ocidental, onde as crianças estão envolvidas nas várias fases.

 

Além disso, a atual cadeia de abastecimento de cacau não incentiva a qualidade, sendo a maioria dos grãos vendidos sem ter em conta a qualidade. A introdução do comércio direto, em que os grãos são comprados diretamente aos agricultores ou cooperativas, pode promover a sustentabilidade, oferecendo grãos de melhor qualidade e preços mais elevados aos agricultores. No entanto, o comércio direto representa atualmente menos de 1% das amêndoas de cacau no mercado.

Chocolate sustentável é possível?

A Beyond Good, uma marca de chocolate "bean-to-bar", forma de os pequenos fabricantes de chocolate distinguirem o seu chocolate do chocolate produzido em massa, paga um prémio aos agricultores, eliminando os intermediários e adquirindo o cacau diretamente às cooperativas de agricultores de Madagáscar, como resposta aos riscos que a produção de chocolate apresenta.

A sua abordagem de fabrico local permite vender barras de chocolate de origem única a um preço acessível. Apesar das promessas da indústria, a cadeia de abastecimento do cacau continua a sofrer de violações dos direitos humanos e de problemas ambientais. A pobreza persistente dos agricultores está ligada aos baixos preços do cacau.

Mas não foi apenas a Beyond God que desenvolveu mecanismos de produção de chocolate mais sustentáveis, o fabricante suíço de chocolate Barry Callebaut lançou uma nova receita chamada chocolate WholeFruit, que utiliza todo o fruto do cacau em vez de apenas as favas.

Ao utilizar as amêndoas, as cascas, a polpa e o sumo, a empresa pretende reduzir o desperdício e oferecer um sabor mais frutado. Esta inovação alinha-se com a crescente procura dos consumidores por produtos mais saudáveis e sustentáveis. O objetivo da Barry Callebaut é satisfazer as necessidades dos consumidores e contribuir para um impacto positivo no planeta.

No mercado nacional já existem, igualmente, produtos que respeitam os diferentes certificados existentes para a produção de produtos biológicos e sustentáveis, nomeadamente o chocolate bio da marca Continente. A certificação e logótipo biológico da EU destes produtos determina o cumprimento de várias estratégias para manter a fertilidade do solo, a saúde animal e a fitossanidade dos ecossistemas.

Certificados

Existem muitos rótulos e perguntas para os consumidores que procuram um chocolate produzido de forma sustentável e ética. Um bom ponto de partida é a procura de certificações Fairtrade, Rainforest Alliance e UTZ. Estes controlos independentes, efectuados por terceiros, podem ser uma parte importante do processo, mesmo que sejam apenas parcialmente eficazes.

No entanto, as certificações éticas e os rótulos de comércio justo nem sempre garantem cadeias de abastecimento diretas ou a melhoria dos meios de subsistência dos agricultores. Os modelos de comércio direto são promissores para os produtores de cacau especiais, mas são necessárias mudanças sistémicas e uma melhor governação para tirar todos os produtores de cacau da pobreza.

Tome Nota!

Apesar dos desafios da indústria do cacau, há esperança. É uma tarefa de todos querermos criar um impacto positivo para o nosso mundo. Explore o tema a sustentabilidade social e ambiental em artigos, iniciativas e boas práticas da Missão Continente.